Onde estamos?
Onde estamos?
Eu, uma mulher de 50 anos, quando olho para trás, percebo que o tempo passou muito rápido. Parece que tudo foi ontem. Isso me dá uma sensação de que a vida passa num instante. E quando olho desse ponto aqui onde estou, vejo que há muita vida pela frente. Vejo que a vida lá na frente é longa, é muita, e me parece que ela vai durar muito tempo.
Me percebo numa estrada, como se estivesse no meio do caminho, exatamente nesse ponto, no meio. E com toda a experiência passada que está comigo aqui agora, eu olho para frente e vejo tudo que pode existir. Vejo tudo onde posso ocupar e me vejo nesse espaço.
Olho para frente sem referência, talvez porque nossas mães não tenham feito muita coisa daqui para frente, desse ponto onde estamos. A falta de referência muitas vezes gera medo, e esse medo pode vir com aqueles pensamentos: “será que eu consigo?”, “vou esperar”, “vou pensar”, “quem sabe um dia” … o que devo fazer a seguir? É só a metade do caminho ainda, e parece uma viagem assustadora e solitária.
Muitas de nós nesse momento da vida estamos assim aqui agora. Muitas de nós os filhos já foram para suas vidas, ou nos separamos, outras não. Muitas de nós estamos solitárias dentro do relacionamento ou estamos solitárias em nós mesmas dentro da família, muitas, muitas de nós nos sentimos solitárias. Que caminho eu quero seguir daqui pra frente? Quem sou eu afinal quando estou sozinha? Quem sou eu sem nada disso? Quem sou eu sem o trabalho ou sem os filhos ou sem o marido? Quem sou eu além?
Se você precisasse se apresentar para Deus, o que você falaria sobre si mesma?
E percebemos esses descompassos entre nós e a vida em momentos de interações, não é só quando estamos sozinhas, nas relações sociais, em amizades, relacionamentos de todo tipo, repetindo, repetindo, se cansando, se cansando… lugares que parecem não fazer sentido nenhum mais, e isso parece gastar muita energia da gente, interações que nos cansam e que continuam nos limitando. E nesses momentos eu percebo: o que estou fazendo aqui? Por que que eu preciso agradar todos? Por que preciso ser perfeita? Isso é tão cansativo…
E volto ao caminho à frente e percebo a mulher que eu gostaria de ser ainda está lá me esperando. E solitariamente, assim como solitariamente eu escovo os meus dentes todos os dias, assim como solitariamente eu tomo meu banho todos os dias, assim como solitariamente sou eu quem me levo para as atividades físicas, sou eu que me levo para o trabalho, assim como solitariamente eu fico com os meus próprios pensamentos, com os meus próprios sentimentos, é sempre muito solitário na verdade. Isso não quer dizer que é ruim, o fato é que são tantas vozes de nós mesmas que ouvimos o tempo todo.
E se nós moramos dentro de nós há tanto tempo, é muito importante que entendamos como nós funcionamos e o que nos faz bem, o que nos faz feliz, o que é importante para nós. E da mesma forma que reconhecer isso é fundamental, é fundamental também que comuniquemos isso para todos, que coloquemos os nossos limites e que entendamos de que lado nós queremos estar.
E muitas vezes isso é muito difícil, achamos que não tem solução, mas há muita vida pela frente, lembra? Fique do seu lado, dê as mãos para si mesma, segue.
Nutra-se mentalmente, fisicamente de todas as informações possíveis que te elevem e que te façam ir pelo caminho que quer estar, onde faz sentido para você.
Então mulheres, não desistam. Somos muitas e temos muito amor dentro de nós. Não se economizem em dar esse amor, em primeiro lugar, para si mesmas. E assim fazê-lo transbordar para todos ao nosso redor, a base de trocas justas, coerentes, sinceras, abertas, lúcidas e acima de tudo recíprocas.
Gabriela Kozlowski