Homens Desorganizados, Mulheres Organizadas
Homens Desorganizados, Mulheres Organizadas
Tenho certeza de que você já ouviu de alguém que “homens são desorganizados e bagunceiros e pouco se importam com limpeza, enquanto as mulheres são organizadas e prezam pela limpeza”, certo?
Estas afirmações são estereótipos de gênero e nem de longe refletem a realidade.
Para mim, são mais das incontáveis expressões que escutamos e repetimos a todo tempo, sem ao menos pensarmos se faz sentido.
A personalidade, comportamentos e características individuais não estão determinados pelo gênero de uma pessoa. A ideia de que homens são desorganizados e mulheres são organizadas é baseada em generalizações simplistas e não levam em consideração a diversidade e complexidade das experiências humanas.
De largada, penso ser necessária a desconstrução da ideia de que as mulheres prezam por limpeza e de que sempre serão organizadas e a de que os homens são desorganizados e não ligam muito para limpeza. As habilidades organizacionais e comportamentais podem variar amplamente entre indivíduos e podem ser desenvolvidas por qualquer pessoa, desde que haja vontade. Existem indivíduos organizados e muito atentos às questões de limpeza e existem indivíduos que pouco se importam com limpeza e com organização, independente do gênero.
Em 2019 a Revista Galileu apresentou um estudo no qual duas imagens foram apresentadas a 327 homens e 295 mulheres de várias idades e origens. Uma das imagens era a de uma sala e cozinha limpas e organizadas e a outra imagem de uma sala e cozinha sujas, desorganizadas e bagunçadas. Os resultados indicaram que os dois gêneros perceberam e classificaram de forma semelhante a organização e a limpeza de uma imagem e a desorganização e sujeira da outra.
Em um segundo momento as mesmas imagens foram apresentadas aos participantes do estudo, porém com a informação adicional de que os ambientes retratados faziam parte da casa de duas pessoas distintas, uma do sexo masculino e a outra do sexo feminino. A imagem dos ambientes limpos e organizados foi mais indicada como sendo a casa da pessoa do gênero feminino e a imagem dos ambientes sujos e desorganizados foi indicada como sendo a casa da pessoa do gênero masculino.
Resultados interessantes né? Descartada a “cegueira à bagunça e à sujeira” trazida pela primeira fase do estudo, os autores argumentaram que recai sobre as mulheres uma expectativa mais impactante acerca de organização e limpeza – expectativa social -, confirmada nas observações da segunda fase do estudo.
Baseados nestes dados, faço a reflexão: de onde vem a ideia e o senso comum acerca da desorganização masculina?
Acredito que, ao longo da história, os meninos foram criados e estimulados a desenvolver atividades que não envolvessem organização e limpeza – não dos ambientes domésticos, pelo menos. Estas tarefas sempre eram feitas pelas mães e irmãs dos meninos até que eles se tornavam adultos e se casassem com mulheres que teriam sido muito bem criadas e estimuladas para assumir as tarefas domésticas da casa dos esposos. O modo de criação das crianças vem mudando muito ao longo dos anos, mas, ainda nos dias de hoje, acredito que meninos sejam bastante poupados das atividades domésticas e organizacionais do lar. Uma vez que não somos vistos – meninos / adolescentes / jovens / adultos / idosos – fazendo atividades domésticas, cria em todos à volta (inclusive em outros homens) uma certa tolerância quanto à desorganização e ao olhar pouco atento à limpeza para o gênero masculino enquanto as mulheres podem ser julgadas de modo mais severo se não tiverem um ambiente doméstico impecável.
Costumava ouvir da minha avó que quem não arruma a própria cama não arruma a própria vida. Penso que nós, homens, deveríamos ser educados – desde crianças – para aprender as atividades domésticas, fazendo algumas sozinhos e colaborando em outras, como organizar armários, pertences e brinquedos, ajudando na limpeza e manutenção da casa, da pia de louças etc, de modo igualitário ao já feito com as meninas. Este estímulo é fundamental no desenvolvimento dos meninos até a idade adulta, vivamos nós solteiros ou em relações de parceria.
É importante evitar perpetuar estereótipos de gênero, pois eles podem levar a preconceitos e discriminação, além de limitar as oportunidades das pessoas com base em características que não estão relacionadas às suas capacidades individuais. Em vez disso, é mais produtivo tratar cada indivíduo como único e valorizar suas habilidades com base em suas ações e méritos, não em estereótipos pré-concebidos.
Henrique Lamaita
Referências:
Revista Galileu: Homens notam bagunça tanto quanto mulheres (mas eles não limpam mesmo assim)
Avesso do Caos: Homens e Organização
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