Existe pressão estética sobre os homens?
- Por Henrique Lamaita
- junho 30, 2023
Existe pressão estética sobre os homens?
Entendo a pressão estética como sendo uma expectativa social para que as pessoas se adequem, a qualquer custo, a um padrão estético admirado e/ou valorizado.
Embora seja mais frequentemente associada às mulheres e, para elas de forma cruel, uma vez que o mercado da beleza e da estética as tem como principal público, nós homens também enfrentamos expectativas culturais na busca por padrões ditos ideais, embora irreais muitas das vezes.
É bastante difícil determinar estes padrões porque eles diferem de acordo com o gênero. Para as mulheres, traços jovens e finos, pele e olhos claros, corpos magros e esbeltos, porém com partes do corpo torneadas e avantajadas são valorizados. Já para os homens, corpos fortes e torneados por musculatura desenvolvida costumam dispensar traços bonitos e finos de rosto mas estes, se existirem, são sempre muito bem vindos. Cabeça com cabelos e barba bem cuidados podem fazer parte do pacote.
Os padrões estéticos no mundo masculino, com o avançar da idade, ganham contornos bem diferentes dos padrões do mundo feminino. Por exemplo, homens com idade variando dos 30 aos 50 anos costumam ser valorizados, os cabelos grisalhos são sinônimo de charme, uma barriguinha é tolerada desde que o homem trabalhe muito e tenha status e poder e, mais ainda, o padrão ideal estético masculino está relacionado, pelo menos no imaginário coletivo, ao sucesso amoroso e à frequência e à potência sexual do homem.
No entanto, a pressão estética pode acabar guiando os indivíduos para o desenvolvimento de uma percepção distorcida dos próprios corpos, além de poder incentivar preconceitos contra homens gordos, idosos ou com alguma deficiência física, por exemplo, por estes não conseguirem se adequar aos padrões. Recentemente li um estudo – peço perdão porque não me recordo a referência – que indicava que os homens têm se sentido inseguros nas relações amorosas e sexuais por não se perceberem bonitos ou atraentes. Sentimentos como rejeição, inadequação, insuficiência, auto desvalorização e baixa autoestima podem levar os homens a comportamentos prejudiciais à saúde, como dietas extremas, exercícios físicos excessivos, uso de produtos que promovam a perda de gordura corporal e o ganho de
volume muscular, além do forte interesse por procedimentos que gerem mudanças na aparência.
À esta insatisfação e insegurança permanentes com a própria imagem, soma-se a comparação às tantas imagens irreais de corpos e rostos, padronizadas por editores de foto e filtros das redes sociais e aplicativos de relacionamentos. Temos, então, a fórmula perfeita para que homens desenvolvam uma percepção equivocada sobre si próprios e até percam a identidade visual, buscando no mundo real semelhanças com as imagens retocadas, alteradas ou até produzidas e publicadas no mundo virtual.
Em 2021 a plataforma de descontos CupomValido.com.br divulgou um estudo que reuniu dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), no qual indica ser o Brasil o segundo país com o maior número de cirurgiões plásticos e o país com maior número de cirurgias plásticas realizadas no mundo, com aproximadamente 1.5 milhões de cirurgias ao ano.
Este mesmo estudo indicou que o procedimento não cirúrgico mais realizado no mundo, por homens e mulheres, é a aplicação da toxina botulínica (Botox), para disfarçar rugas e linhas de expressão, seguido da aplicação de ácido hialurônico e a remoção de pêlos, respectivamente. Além disto, o estudo revelou as cinco cirurgias mais realizadas por nós, homens:
1º: Ginecomastia: cirurgia estética que reduz o excedente da mama masculina;
2º: Blefaroplastia: cirurgia com o objetivo de corrigir pálpebras caídas.
3º: Lipoaspiração: procedimento realizado por aspiração de gordura localizada.
4º: Rinopastia: cirurgia plástica do nariz, para o tratamento de desvios funcionais ou
para a correção estética.
5º: Otoplastia: cirurgia plástica realizada para melhorar a aparência orelhas.
Por aqui, cheguei aos 50 anos sem cirurgias e procedimentos de grandes relevâncias, inclusive botox. Na adolescência, vivi um transtorno dismórfico corporal – complexo de magreza na verdade – que me privou, durante anos, de curtir praia ou piscina porque não queria expor meu corpo sem camisa. Nem preciso mencionar o uso de sunga, certo? O ator Robert Pattinson falou à revista Sunday Style, em 2013, sobre ter vivido o mesmo problema, que consiste em julgar parte do seu corpo feia e dar um foco obsessivo naquilo e como esta questão atrapalhava sua vida e carreira.
Já na juventude, superei o complexo porque comecei a fazer academia, ganhei massa muscular e fiz as pazes com meu corpo, mas o tamanho do meu nariz ainda me incomodou até por volta dos 25 anos. Depois dos 30, “virei uma chave” e passei a gostar muito do nariz e hoje vivemos em harmonia.
Senti a pressão estética quando me disseram, aos 48 anos, que meu rosto parecia o rosto de um velhinho e que precisava fazer intervenções. Meu rosto, de verdade, não parecia o de um velhinho e, se estivesse parecendo, haveria algum problema? Esta aparência só indicaria que vivi intensamente.
Deixo claro que, com este texto não tenho intenção de julgar aqueles (as) que se submetem a procedimentos estéticos ou cirurgias plásticas. Acredito no poder restaurador da auto-estima trazido por procedimentos e cirurgias, porém me sinto incomodado com a busca desenfreada e pouco cuidadosa por cirurgias plásticas e pela padronização de resultados que homens e mulheres estão conseguindo na busca infindável por aceitação social, seja fazendo parte de grupos, recebendo mais atenção nas redes sociais ou ganhando mais “matches” nos aplicativos de relacionamentos.
É importante reconhecermos que todos temos uma aparência única e que a diversidade é algo para ser celebrado. Devemos trabalhar para desafiar as expectativas culturais e promover a aceitação e o amor próprio para todas as pessoas, independentemente de sua aparência física e da idade que se tenha hoje.
Sigo vivendo em paz com o conjunto que vejo no espelho.
Henrique Lamaita
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