Comportamento

O borogodó das mulheres mais velhas

O borogodó das mulheres mais velhas

O borogodó das mulheres mais velhas: Por que algumas mulheres têm tanto borogodó e outras são só o ó do borogodó?

Mas, afinal, o que é o tal do borogodó?

Ninguém conseguiu definir direito o que é borogodó, mas todos souberam dizer quando alguém tem (ou não tem) borogodó. Daí o seu doce e irresistível mistério.

Estou buscando criar uma definição que sintetize as características mais citadas na minha pesquisa, mas confesso que ainda sinto falta de algo inclassificável:

Borogodó = carisma + poder de atração + autenticidade + leveza + bom humor + um algo a mais sem qualquer explicação

Carisma seria, então, o melhor sinônimo de borogodó?

Após entrevistar homens e mulheres sobre o tema, acredito que o borogodó é uma qualidade ainda mais rara e preciosa do que o carisma. Estou chegando à conclusão de que, no Brasil, o borogodó é um verdadeiro capital.

O borogodó, para uma atriz de 65 anos, é uma espécie de poder inexplicável, uma luz natural que vem de dentro, como uma graça divina.

“O melhor exemplo de mulher com borogodó é Brigitte Macron. Ela tem 70 anos, é casada com um homem 25 anos mais novo e nunca deixou de ser uma mulher poderosa, inteligente, elegante, autêntica, independente, corajosa. A Brigitte nunca deixou de ser ela mesma, nunca precisou se exibir ou se esforçar para chamar atenção. É natural, está no DNA dela”.

Elegante e discreta, a “primeira-dama” francesa, Brigitte Macron (70 anos)

Para ela, “o segredo do borogodó é não ter vergonha de ser você mesma”.

“Todo mundo gosta de mim de graça. Sempre fiz sucesso com homens e mulheres de todas as idades. Não tenho vergonha de estar mais velha, mais gorda, mais flácida, mais pelancuda e com muito mais rugas, estrias e celulites. Acho que a liberdade, a alegria e a coragem de ser eu mesma é o meu maior borogodó.”

Seu marido, um fotógrafo de 40 anos, disse que a atriz é “a rainha do borogodó”.

“Minha mulher tem 65 anos, mas tem muito mais borogodó do que muitas garotinhas, porque o borogodó não depende do colágeno nem da bundinha durinha. Ela chega em qualquer lugar e naturalmente rouba a cena, ilumina todo o ambiente, contagia com suas risadas gostosas, inteligência e alegria de viver. Ela brinca o tempo todo com os próprios defeitos, faltas e imperfeições. Sabe o que me dá mais tesão? Ela sabe rir dela mesma e me faz dar risadas até mesmo nos momentos mais difíceis.”

Ele adora fotografar “mulheres inteligentes e interessantes que, apesar de mais velhas e consideradas fora do padrão, têm um baita borogodó”; e odeia trabalhar com “mulheres que, apesar de jovens e perfeitas de corpo e rosto, são só o ó do borogodó”.

“Trabalho com mulheres lindas que são arrogantes, nojentas, exibidas, narcisistas, desagradáveis e insuportáveis. Aquele tipo de mulher que deve se perguntar o tempo todo: ‘Espelho, espelho meu, será que existe alguém com mais borogodó do que eu?’. Sabe qual é o paradoxo do borogodó? Se uma mulher se achar cheia de borogodó, pode ter certeza de que está diante de uma chata sem um pingo de borogodó. Ela é, na verdade, só o ó do borogodó.”

Sei que você deve estar se perguntando agora: “Será que eu tenho borogodó?”. Se depois de ler sobre o paradoxo do borogodó você responder que sim, é provável que não tenha. Se responder que não, também não deve ter, pois os outros já teriam dado provas do poder do seu borogodó.

Agora, se você responder que não sabe, talvez faça parte do universo das raras pessoas encantadoras que têm esse tal de borogodó. Ou será que você é só “o ó do borogodó”?

Mirian Goldenberg


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Mirian Goldenberg
Sobre

Mirian Goldenberg

Professora Titular do Departamento de Antropologia Cultural e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Doutora em Antropologia Social pelo Programa de PósGraduação em Antropologia Social do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, colunista do jornal Folha de S Paulo, desde 2010 e autora de 30 livros.

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