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Os livros salvaram a minha vida

Os livros salvaram a minha vida

Os livros salvaram a minha vida: Como tantas crianças traumatizadas pela violência familiar, livros foram meu único refúgio de amor e esperança.

Sou, como tantas crianças nascidas em famílias violentas e abusivas, uma sobrevivente. Da infância, só me lembro de cenas de brigas, gritos e surras. Eu me escondia dentro dos armários, tentando ser invisível para não apanhar de meu pai e irmãos.

Minha salvação foram os livros do meu pai. Ainda menina, li todos os livros que encontrei na estante da sala: Freud, Erich Fromm, Karen Horney, Melanie Klein, Sartre, biografias, histórias do Holocausto e muitos outros. Não tive Barbies: os livros foram meus únicos brinquedos.

Não sei quantos livros eu li até hoje, talvez alguns milhares. Gosto de brincar com os meus livros: escrever comentários e perguntas para os autores, sublinhar as frases com canetas coloridas, registrar as ideias mais importantes em post its de diferentes tamanhos e cores. Meus livros parecem verdadeiros arco-íris, com post its e anotações com canetas azuis, pretas, vermelhas, amarelas, rosas, verdes, roxas…



Na semana passada, uma jornalista me perguntou quais foram os livros e escritores que mais influenciaram minhas escolhas existenciais. Não tive a menor dificuldade para escolher minhas três musas inspiradoras.

Aos 16 anos, li “O Segundo Sexo”, de Simone de Beauvoir. Já li tantas vezes o livro que precisei comprar outro, de tão colorido e sublinhado ele estava. É o livro mais importante da minha vida. Imaginem a minha alegria ao receber o convite, em 2019, para escrever a apresentação da edição comemorativa de 70 anos de “O Segundo Sexo”. E de ver o meu texto ilustrado com a fotografia de Simone de Beauvoir, nua, no espelho: um belo retrato da liberdade feminina.


Simone de Beauvoir, Resistencia lésbica, CC BY-SA 4.0 , via Wikimedia Commons

Descobri os caminhos da minha libertação com a leitura de “O Segundo Sexo”. Simone de Beauvoir me ensinou que eu não estava condenada ao mesmo destino infeliz da minha mãe: ter um marido agressor, alcoólatra e espancador dos filhos. Ela me inspirou a lutar incansavelmente, como luto até hoje, para ser uma mulher independente financeiramente e realizada profissionalmente. Afinal, “não se nasce mulher: torna-se mulher”!

Mirian Goldenberg


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Mirian Goldenberg
Sobre

Mirian Goldenberg

Professora Titular do Departamento de Antropologia Cultural e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Doutora em Antropologia Social pelo Programa de PósGraduação em Antropologia Social do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, colunista do jornal Folha de S Paulo, desde 2010 e autora de 30 livros.

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