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Por que homens têm vergonha de falar sobre sua vida sexual?

Por que homens têm vergonha de falar sobre sua vida sexual?

Por que homens têm vergonha de falar sobre sua vida sexual? ‘Homens mentem muito quando o assunto é sexo’, me disse um entrevistado.

A pesquisa “Love Life Satisfaction”, revelou que “Quatro em cada dez brasileiros dizem estar insatisfeitos com sua vida sexual”. Realizada pela Ipsos em 32 países, com 22 mil pessoas, a pesquisa mostrou que a China apareceu em primeiro lugar, com 79% dos entrevistados afirmando que estão satisfeitos com a sua vida amorosa, seguida por Indonésia e Tailândia, com 75%. O Brasil apareceu em vigésimo segundo lugar, com 60% dos entrevistados satisfeitos com suas vidas sexuais, três pontos abaixo da média global (63%).

“Ah, mas as pessoas mentem. O número de pessoas insatisfeitas deve ser muito maior”, vocês devem estar pensando. Concordo, mas quando o tema é sexo, só podemos analisar o que as pessoas revelam sobre as suas vidas sexuais. Não é possível observar o comportamento efetivo na cama, não é mesmo?

A pesquisa “General Social Survey”, de 2021, mostrou que mais de um quarto dos americanos não havia feito sexo uma vez sequer nos 12 meses anteriores. Foi o mais alto nível de ausência de sexo na história da pesquisa.

Na minha pesquisa sobre amor, sexo e traição na maturidade, o número de mulheres e homens que estão insatisfeitos com suas vidas sexuais é bem superior a 40%. Escreverei sobre a profunda insatisfação sexual, inclusive entre casais mais jovens, em outro momento.

“E os homens, Mirian? Você não vai escrever sobre a vida sexual dos homens mais velhos?”. Já escrevi algumas vezes sobre a sexualidade masculina na maturidade. O ator Stepan Nercessian, de 68 anos, revelou que não faz mais sexo com a esposa, de 61, com quem é casado há 35 anos:

Dá muito trabalho, tem que tomar banho, se preparar. Parei com isso já faz tempo. Um quer, outro não quer, dá briga… Um dos motivos que o casal se separa é por não querer mais fazer sexo. Estou nessa fase há muito tempo. Não tem mais.

Os homens mais velhos que eu entrevistei têm vergonha e constrangimento para admitir que não querem (ou não podem?) mais fazer sexo. Apesar do silêncio masculino, tenho depoimentos masculinos interessantes para pensar sobre a sexualidade masculina na maturidade.

Para um músico de 65 anos, a pandemia foi um baque na vida como um todo. A prioridade passou a ser cuidar dos pais, dos filhos e netos, administrar a falta de grana e lidar com a dor das perdas e lutos. O sexo ficou em último lugar na lista.

Juntou tudo: o pânico da pandemia, a crise política e financeira, a menopausa da minha mulher e a morte de pessoas queridas. Até março de 2020, nossa vida sexual era bem gostosinha e frequente. De lá para cá, acho que só transamos três vezes. Se a cabeça não está legal, o resto também não funciona. Em vez de transar, prefiro ler um bom livro, assistir a alguma série ou filme, brincar com os netinhos e dormir um pouco mais. Não sei se o tesão acabou, se é preguiça ou se é o resultado natural de um casamento de 30 anos. De vez em quando, só para provar para mim mesmo que não estou brocha, assisto a vídeos pornôs para tirar o atraso.

A velhice chega de forma diferente para cada pessoa, como afirmou um professor de 67 anos.

A coisa que eu mais gostava na vida era transar com minha mulher. Hoje não consigo mais. Eu teria que tomar Viagra e não gosto da sensação, fico com dor de cabeça, me sinto mal. Mas a vida não perdeu o sentido, existem outras formas de gozar a vida. Espero que seja uma coisa transitória, que eu volte a ter saúde física e emocional para fazer sexo, mas no momento eu me sinto impotente.

Para ele, os homens mentem muito quando o assunto é sexo.

Os homens adoram contar vantagem sobre sexo: ‘Peguei não sei quantas mulheres no Carnaval, transei nem sei quantas vezes’. Tudo mentira! Tenho dois amigos que só conseguem transar com garotas de programa e só se tomarem Viagra. Muitos homens estão sem tesão, não querem mais transar, mas contam um monte de lorota. Por que será que os homens têm tanta vergonha de confessar a verdade sobre suas vidas sexuais?

Mirian Goldenberg


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Mirian Goldenberg
Sobre

Mirian Goldenberg

Professora Titular do Departamento de Antropologia Cultural e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Doutora em Antropologia Social pelo Programa de PósGraduação em Antropologia Social do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, colunista do jornal Folha de S Paulo, desde 2010 e autora de 30 livros.

4 Comentários

  • É um total desencontro né… resultado de uma educação sexual completamente equivocada, ou inexistente msm. Nós mulheres fomos criadas para não admitir a vontade e o gosto pelo sexo. Já os meninos, foram criados para passarem a idéia de “pegadores”, sempre dispostos, viris, símbolo de força e domínio. Admitir que não tem vontade, ou que existe algum problema, joga toda essa construção por terra. Resultado disso e que vivemos uma eterna encenação. Tá mais do que na hora de olharmos com generosidade para a nossa humanidade, inclusive quando o tema é sexo.

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