Quem é você, quando as luzes se apagam?

Quem é você, quando as luzes se apagam?

Vera era uma mulher ambígua, chegou com uma calça jeans larga, mas usava um scarpin vermelho, salto bem alto.

Interessante que ela dizia que era tímida, mas falava alto, cruzava e descruzava as pernas.

Vera chegou me relatando que se relacionou muito tempo com Gustavo e que eles tinham uma vida sexual “exótica”. Ela gostava de ser amarrada e puxões de cabelo. Foi com ele que ela aprendeu a falar na cama, dizer o que gosta e como gosta…. não havia limites para as palavras.

Xingamentos eram permitidos, pequenos tapas eram liberados…

E era assim que ela gostava do sexo, havia consensos, mas também havia um jogo de poder e dominação. Não sabe dizer ao certo porque terminaram…só terminaram e pronto.

A vida de ambos seguiu adiante e nunca mais se viram, as vezes o stalkeava em redes sociais, mas quando o via com outras mulheres ficava irritada.  Não vinha fazendo mais isso.

Há cerca de um ano iniciou um relacionamento com Heitor, se conheceram através de amigos em comum.

Dizia que estava gostando muito de se relacionar com ele, ou que pelo menos deveria gostar já que ele era “muito gentil” com ela.

Apesar do sexo ser bom sentia falta de “uma certa pimenta “.

 Já tinha tentado introduzir sextoys, géis, vários tipos de novidade, mas Heitor era resistente e convencional.

Uma noite quando estavam transando e Vera pediu para Heitor virá-la e colocá-la de quatro, pediu para ele ser mais audacioso, e disse: “Me dê um tapa”

Ele riu, e fez de maneira sutil.

Ela pediu: “Mais forte Heitor!!”

Ele repetiu, mas continuava dando tapas leves.

Em um determinado momento Vera se virou e disse:

“Me bata com força! Seja homem pelo menos uma vez!”

Heitor parou, um silêncio se instalou no ambiente, até que ele assustado disse:

“Quem é você?”

E assim se seguiram os dias, ele a evitando e ela sem coragem de conversar. Estavam se distanciando cada vez mais

No momento estava confusa não só pelo distanciamento do Heitor, mas também por não saber responder a uma simples pergunta: “Quem eu sou?”

Ahh Vera… o bom da vida é podermos ser o que quisermos ser, e melhor ainda, podermos ser muitas em uma só, e em momentos diferentes.

A única questão é a desonestidade ou a camuflagem.

Camaleões se camuflam para sobreviver a predadores, já nós nos camuflamos para sermos aceitos.

Mas uma hora essa camuflagem se desfaz, e aquele outra hora ambiente seguro se transforma em um ambiente hostil e talvez até pequeno demais para se estar.

E novos ambientes devem ser procurados e visitados ou então seria melhor se adaptar…?

Quem é você? Quem é Heitor? Não sei responder…, mas aposto que vocês sabem.

Dra Ana Dias

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