Comportamento Histórias de Vida

Um conto de fadas as vezes demora a acontecer

Um conto de fadas as vezes demora a acontecer

Um conto de fadas as vezes demora a acontecer

A luta está difícil, mas não posso desistir

Depois da tempestade flores voltam a surgir

Mas quando a tempestade demora a passar

A vida até parece fora do lugar

Não perca a fé em Deus, fé em Deus

Que tudo irá se acertar

Eu sempre digo que todo mundo tem uma história para contar…. algumas são tristes outras felizes…. mas o que importa mesmo é que muitas vezes aquela história não deverá marcar o fim da sua jornada, as vezes ela é só o início.

E assim começa a história de vitória, e por um acidente do destino nos conhecemos.

Certo dia entre um atendimento e outro me levantei para buscar um café enquanto aguardava o próximo paciente que estava muito atrasado.

Quando estava voltando para sala esbarrei em Vitória que estava chorando, um choro sofrido.

Perguntei se estava tudo bem e se ela precisava de ajuda e ela fez que não com a cabeça…

Busquei um pouco de água para ela e a levei até a minha sala.

Ela me explicou que seria a sua primeira consulta com a psicóloga, mas que ela tinha desmarcado.

Expliquei que era terapeuta sexual que não tinha como atendê-la, mas como ela chorava muito não tive coragem de mandá-la embora.

Começamos a conversar e ela me disse que se sentia triste. Tinha tido uma infância difícil, sofrida e sempre acreditou que tinha sido sortuda, por ter sido adotada.

Não conhecia seus pais e sempre ficava imaginando como seria ter uma família, se sentir amada… então quando a adoção aconteceu se sentiu realizada.



Só que tudo ocorreu como não esperava. Ao invés de ser tratada como filha era tratada como uma ajudante de serviços domésticos.

Nunca sentiu um abraço de mãe, nunca ouviu um eu te amo, ninguém lhe contava histórias a noite para dormir.

“Os dias iam passando e as coisas não mudavam. Passei por todos os tipos de humilhação. Não tinha esperança de ter uma vida feliz. Tinha dias que eu queria que minha vida simplesmente acabasse.

Tive uma infância de muitos maus-tratos e ausências. Cresci me sentindo rejeitada e pouco amada.”

Enquanto ela falava lembrei da minha mãe. Apesar de não ter sido adotada minha mãe perdeu o pai muito cedo, aos 6 anos de idade.

Sua mãe era analfabeta, e com o falecimento do marido ambas tiveram que começar a lavar e passar roupa para fora.

Como não tinham dinheiro minha mãe andava pelas ruas carregando trouxas de roupa na cabeça e ao longo do trajeto era humilhada pelos meninos do bairro, além de levar pedradas.

A única vez que pediu ajuda para alguém foi para seu padrinho, pois queria comer um biscoito que estava sendo vendido e o padrinho a humilhou, mandou ela trabalhar.

Nunca mais conseguiu pedir nada para ninguém.

Cresceu assim cheia de marcas, cicatrizes que até hoje sangram.

Naquela época não existia tratamento para isso e como consequência ela se tornou um adulto que carrega muito sofrimento dentro de si.

Nunca se sentiu amada suficiente, qualquer “não” ela ainda se sente como a menina pobre que levou muitas pedradas da vida.

Mas essa história não é sobre minha mãe ou sobre mim e sim sobre Vitória.

Tanto sofrimento na sua infância estava desestruturando sua vida até hoje

Hoje já é uma mulher adulta, mas aquela criança que sofreu tantos maus tratos não a largava e as cicatrizes as vezes ainda sangravam.

Me solidarizo com ela, quantas pessoas esperam encontrar o amor e só encontram o vazio?

Quantas abraços ficam perdidos no meio da solidão?



Tem uma frase que eu sempre digo para minha mãe em momentos de crise e hoje vou empresta-la para Vitoria:

“Ostra feliz não faz perola”.

Que os percalços da vida sirvam de degraus para que um dia você encontre a felicidade e amor tão merecidos, e você perceba que a criança que sofreu muito no passado foi só um dos caminhos para você se tornar essa mulher incrível que você é.

Fomos interrompidas por batidas na porta, era a secretária me avisando que o meu paciente havia chegado e que a psicóloga de Vitória iria atendê-la.

Vitória olhou para ela sorrindo e disse:

“Acho que eu não preciso mais!”

Olhei sorrindo para ela e disse:

“Nada disso mocinha! Aqui é consultório de terapia sexual siga com a psicóloga.”

Sorrimos uma para outra e lhe dei um abraço demorado forte e caloroso, para compensar toda a falta dos abraços que ela não teve na vida.

Dra Ana Dias



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Ana Flavia Dias
Sobre

Ana Flavia Dias

Ginecologista e terapeuta sexual... Amante da alma humana... Te ajudo a descobrir ou melhorar seu prazer sexual em todas as fases da vida.

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