Como aceitar e amar o nosso corpo perfeitamente imperfeito
Como aceitar e amar o nosso corpo perfeitamente imperfeito
É preciso coragem para enfrentar os sofrimentos de envelhecer em uma cultura que supervaloriza a juventude
Dois meses antes do prazo para entregar o relatório final da minha pesquisa sobre envelhecimento, autonomia e felicidade (1º de outubro de 2024), eu disse para Terezinha Féres-Carneiro, minha supervisora de pós-doutorado em psicologia social na PUC-Rio, que gostaria de aprofundar algumas questões importantes:
1. Sobre as razões que fazem com que o casal predominantemente adoecido repita sempre as mesmas brigas, queixas e reclamações e não conseguir mudar;
2. Sobre o sentimento de estar sempre à mercê do outro e não conseguir se libertar;
3. Sobre o significado de autonomia, liberdade e independência;
4. Sobre o sentimento de solidão, rejeição e desamparo no casal predominantemente adoecido;
5. Sobre a importância da reciprocidade, do reconhecimento e da valorização no casal predominantemente saudável;
6. Sobre os caminhos de estabelecer e respeitar os limites de cada um dos membros do casal;
7. Sobre a necessidade feminina de sentir uma confiança absoluta no parceiro; e também de se sentir única, especial e incomparável: “a número um”;
8. Sobre o sofrimento, o medo e a vergonha de envelhecer, especialmente por parte das mulheres.
Terezinha disse que não achava necessário trabalhar esses pontos no relatório. “Já está de bom tamanho, eu não aprofundaria nem acrescentaria mais nada”. E que, em trabalhos futuros, eu poderia refletir mais sobre as questões que me interessam.
No entanto, insisti que gostaria de refletir um pouco mais sobre uma das questões: o medo, o sofrimento e a vergonha de envelhecer. É possível sofrer um pouco menos com o envelhecimento?
Terezinha respondeu que conhece muitas mulheres que têm uma idade avançada e que têm um espírito jovem.
“Elas se interessam por coisas novas que estão acontecendo na sociedade e no mundo e aceitam com muito mais tranquilidade o corpo envelhecido. Mulheres que falam a própria idade com o maior orgulho porque não valorizam tanto a aparência física e valorizam muito mais outras características, como a autonomia, a sabedoria e a experiência, São mulheres que aceitam e amam seu corpos perfeitamente imperfeitos.”
Terezinha
Por que “perfeitamente imperfeito”?
O perfeitamente imperfeito é a aceitação da finitude, do tempo que passou, das marcas que ficam no corpo. Falo isso do alto dos meus 80 anos.
Envelhecer bem é poder enxergar o próprio corpo perfeitamente imperfeito porque essa dita imperfeição é inevitável com a passagem do tempo, com a finitude do ser humano. Perfeitamente imperfeito é aceitar que somos finitos e amar o nosso corpo que inevitavelmente se transforma com a passagem do tempo.
Qual seria então o antídoto para as mulheres não sofrerem tanto quando envelhecem?
O primeiro passo muito importante seria elas se aceitarem como velhas, porque, se elas se aceitarem, a opinião do outro não é tão importante.
O mais importante é como você se sente. Existe aí uma falta de autoaceitação, e isso leva à vergonha, ao medo e ao sofrimento. Se você aceita e ama quem você é, você não vai se envergonhar. A vergonha é decorrente da não aceitação, da falta de amor pela própria história.
E como as mulheres podem aprender a se aceitar?
Não existe um antídoto, um remédio, uma solução mágica, porque a autoaceitação tem a ver com a história de cada mulher, de como ao longo da vida ela se sentiu aceita, de como ao longo da vida ela se sentiu valorizada, de como ela própria se autovalorizou ao longo da vida. É mais complexo, não tem uma receita para resolver a questão, tem a ver com a história de cada uma.
Contei que encontrei esse olhar de aceitação e de valorização na relação com os meus melhores amigos, Guedes e Thais, de 98 anos. Com o amor incondicional que sinto por eles, e eles por mim, aprendi a ter coragem e a sofrer um pouco menos com meus medos, inseguranças e vergonhas.
Na verdade, a minha “bela velhice” também tem sido “perfeitamente imperfeita”. Estou fazendo tudo o que eu mais amo: lendo, escrevendo, estudando, pesquisando, cuidando dos meus amigos e amigas, curtindo a minha casa, caminhando descalça na areia quente da praia, fazendo exercícios no parquinho, assistindo a séries e filmes com o meu amor, dando pedacinhos de banana para os passarinhos que cantam na minha janela todos os dias e muito mais.
Não tenho a menor vontade de fazer procedimentos para ficar “dez anos mais jovem”: só quero “brincar” mais, sofrer menos e ser uma “Velha Sem Vergonha”. É querer muito?
Mirian Goldenberg
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