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Crise da meia idade

Crise da meia idade

Crise da meia idade.

Alguém aí não está em crise com alguma coisa?
Segundo os dicionários, crise pode significar um episódio desgastante, complicado; uma situação de tensão, de conflito. Eu complemento que pode estar relacionado a uma situação difícil, instável, angustiante ou delicada. Se uma situação começa a incomodar e não recebe a devida atenção em prol de sua solução, temos o cenário para uma crise.

Dizer que está em crise com…. anda bem comum.

Crises sociais, políticas, econômicas, ambientais; locais, regionais, globais; coletivas ou pessoais; com o relacionamento, com o peso, a idade, os cabelos caindo da cabeça, com as finanças… Tudo pode estar a um passo de se tornar uma crise a curto, médio ou longo prazo. Embora certamente nos preocupemos com aquelas que afetam o coletivo, as crises que mais pegam costumam ser as pessoais.

Na idade infantil, estamos todos sendo ensinados pelos pais, pela família, professores e tutores sobre como resolver as demandas diárias e acabamos sendo poupados de precisar avaliar e dar solução aos problemas. Acredito que os meninos sejam mais poupados e isto não é nada interessante para nós.
Já na idade adulta, nossos problemas precisam ser resolvidos por nós mesmos e, neste contexto, mulheres e homens podem ter problemas e entrar em crises por razões semelhantes. Porém, os gêneros costumam enfrentar e até sair dos episódios de maneiras distintas.

Acredito que a maioria das mulheres seja encorajada, desde sempre, a observar e a enfrentar situações desafiadoras. São encorajadas a olhar para como as situações afetam suas emoções e, a partir daí, entender como afetam suas vidas.

Nós, homens não somos estimulados a observar nossas emoções e sentimentos. Ao contrário, somos encorajados a ignorar e a negar o que se passa no campo emocional e sentimental, desde a infância.

Tudo começa com a clássica “meninos não choram”, passa pelas cores das roupas que meninos devem usar, com o tipo de brinquedo que meninos devem ganhar e com quem devemos brincar. Somos estimulados a ser reativos e jamais levar desaforo para casa, nos ensinam que meninas jovens sempre vão querer namorar um só e nós, sempre devemos querer namorar várias, que homem não brocha e precisa estar sempre disposto para o sexo. Que precisamos escolher um trabalho que proporcione dinheiro para prover a família com abundância e que, lá pelos 35 anos, estejamos casados, com filhos, muito bem sucedidos profissionalmente e rumando a uma aposentadoria tranquila e abundante.

Embora acredite que alguns homens tenham conseguido passar pela vida “de boa” seguindo este roteiro, tenho certeza de que a maioria não lidou ou não lida bem com as situações descritas acima. E reparem que apenas citei poucos exemplos. É um tsunami de emoções e demandas reprimidas, que acabam nos levando a medos e frustrações e, na idade adulta, nos guiam ao consultório psicológico ou ao boteco para encher a cara até que os problemas se resolvam.

Empresas e instituições costumam ter um setor chamado “comitê de gerenciamento de crise”. Forma-se um grupo de profissionais que avaliam as situações e indicam os melhores caminhos a serem seguidos diante dos problemas. E nós, temos um comitê de crise para chamar de nosso? Deveríamos ter e, sinto dizer que este comitê seria formado, individualmente, por nós mesmos.

Não tem jeito, se crescemos sendo estimulados a ignorar e a negar emoções e sentimentos, nosso comitê de gerenciamento de crises irá sempre falhar toda vez que demandado. Quando as falhas de gerenciamento acontecem depois dos 40 ou dos 50…. muitas crises aparecem de uma vez e o nome disto é crise da meia idade.

Por aqui, percebi que estava na crise da meia idade aos 40 anos, com momentos reflexivos frequentes e intensos. A situação persistiu quando virei a chave dos 50, porém foi mais branda. Acho que consegui fazer umas previsões e me preparei melhor. Mesmo assim, passar “pela metade” me gerou desassossego acerca das escolhas feitas ao longo da vida, em todos os aspectos. Basicamente, foi uma revisão geral nos papéis performados, desde a infância, até aqui.

No geral do mundo masculino, acho que questionamentos nas relações conjugais, familiares ou no trabalho, a busca insana por performance profissional, dinheiro, poder e status ou até mesmo um desencanto com a profissão dedicada por anos; problemas de saúde; as mudanças físicas e de humor, baixa na disposição para fazer coisas, mudanças no interesse e na performance sexual, de perdas amorosas ou afetivas; um luto; uma forte sensação de que ainda dá tempo para aproveitar a vida de modo que não se fez até agora e que, para isto, será preciso enfrentar problemas como pouco se fez até então, dentre tantas outras situações, podem guiar os homens para a crise da meia idade.

Por outro lado, percebo a crise da meia idade como uma mola propulsora que, quando bem direcionada, com questões trabalhadas, compreendidas e aceitas por aqueles que já se enveredaram um pouco pelo autoconhecimento, é capaz de nos tiram das zonas de conforto e nos mostrar oportunidades para mudanças, para o aprendizado e para o desenvolvimento de novas soluções e estratégias de enfrentamento dos desafios e a superação das dificuldades – diárias – do envelhecimento.

Henrique Lamaita


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Sobre

Henrique Lamaita

O melhor observador de mim mesmo. Fazendo e vivendo o que é possível a cada dia, com a certeza de que é o melhor investimento na felicidade. 50 anos com rosto, corpo e disposição de um homem de 50 anos.

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