Homens também podem ser felizes sem sexo
Homens também podem ser felizes sem sexo: Por que tantos homens e mulheres estão se libertando do modelo machista de sexualidade?
Na semana passada, o ator Stepan Nercessian, de 68 anos, revelou que não faz mais sexo com a esposa, de 61, com quem é casado há 35 anos:
“Dá muito trabalho, tem que tomar banho, se preparar. Parei com isso já faz tempo. Um quer, outro não quer, dá briga… Um dos motivos que o casal se separa é por não querer mais fazer sexo. Estou nessa fase há muito tempo. Não tem mais.”
Sei que vou provocar algum desconforto ao contar que boa parte das mulheres que tenho pesquisado —e também dos homens— não tem tanto prazer e interesse no sexo. Muitos me revelaram que o sexo deixou de ser uma prioridade em seus casamentos e que descobriram novos prazeres na maturidade. Mais velhos, eles se sentem mais livres para escolher como usar o tempo com atividades e projetos que consideram mais significativos e gratificantes.
Há uma inversão interessante, como mostrei no livro “A Invenção de uma Bela Velhice”. Para alguns homens, um novo prazer é ser “dono de casa”, principalmente para aqueles que passaram grande parte da vida mergulhados no mundo do trabalho. Quando se aposentam, querem ter mais tempo com a esposa, filhos e netos. Desejam desfrutar do mundo da família e da casa de que não puderam usufruir antes, pois se dedicaram quase que exclusivamente ao trabalho.
Já as mulheres querem ter mais tempo para sair com as amigas, fazer cursos, ir ao cinema e teatro, viajar, passear, rir e conversar. Querem ter mais tempo para cuidar de si mesmas, pois passaram a vida inteira cuidando dos outros. Preferem saborear o mundo da liberdade e da amizade que não puderam aproveitar quando mais jovens, já que se dedicaram prioritariamente ao mundo da família e da casa.
Para uma arquiteta de 56 anos, a aposentadoria sexual veio junto com a menopausa:
“Eu tive uma vida sexual gostosa até a menopausa. Mas, infelizmente, o tesão acabou. Amo meu marido, temos um casamento maravilhoso, mas não tenho mais vontade de transar com ninguém, nem com ele, nem com o Chico Buarque, nem com o George Clooney. Sou cobrada pelas minhas amigas por ter me aposentado do sexo. Elas vivem me atormentando dizendo que meu marido vai me trair com alguma periguete, mas não sabem que ele também se aposentou do sexo. Como disse minha musa Rita Lee: ‘velho não quer trepar!’”.
“Homens também podem ser felizes sem sexo”, declarou enfaticamente seu marido, um professor de 69 anos:
“Até a menopausa da minha mulher, nós transávamos duas ou três vezes por semana. Quando a menopausa chegou, nos aposentamos do sexo. Somos muito felizes juntos, somos amigos e companheiros, cuidamos um do outro, respeitamos o tempo e o espaço de cada um, namoramos, dançamos, vemos filmes e séries, viajamos, caminhamos na areia da praia de mãos dadas, fazemos massagem, brincamos e damos muita risada. A verdade é que o sexo não faz tanta falta. Por que não podemos gozar com os outros prazeres e alegrias da vida?”
“O machismo é uma prisão massacrante também para os homens”, afirmou:
“Os preconceitos e as pressões sociais são tão massacrantes que os homens não assumem que se aposentaram do sexo com medo de não corresponderem ao modelo machista de sexualidade. Somos obrigados a ter uma performance sexual potente e frequente, inclusive em momentos de doença, crise, depressão, exaustão e estresse. Diferentemente das mulheres, nós sofremos calados por vergonha e medo do estigma de não ser um ‘homem de verdade’. Um homem de verdade não pode chorar, não pode brochar e não pode se aposentar do sexo. Daí enche a cara, toma Viagra e antidepressivo, porque o homem de verdade não existe, é só um mito machista.”
Apesar de reconhecer alguns avanços dos comportamentos masculinos, o professor admitiu que o machismo não morreu:
“Meus amigos me xingam de velho brocha, cagão, corno, viado e boiola. Eles não entendem por que não tomo Viagra. Estão tão brochas quanto eu, mas são machistas e têm vergonha de assumir. Não tenho vergonha de admitir: homens também podem ser felizes sem sexo. É uma grande libertação.”
Parece que agora até os homens estão perdendo a vergonha de assumir que “velho não quer trepar”. Ou, ao menos, que nem todos querem. É (ou não é) uma grande libertação?
Mirian Goldenberg
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