Um triângulo equilátero e seus lados desiguais

“Numa linda noite bela
Saímos pela madrugada
Ela e o namorado dela
Eu e minha namorada
Não pude nem me defender
Levei um golpe da paixão
Lutei não consegui conter
A fúria do meu coração
Ela no meu e eu no seu olhar
Tentei disfarçar
Ela me provocando
Aconteceu não deu pra segurar
Não se pode negar
Um verdadeiro encanto
Pode parecer vulgar
Mas rolava um clima de amor
A gente falava no olhar”.
Um triângulo equilátero e seus lados desiguais
Yasmin e Vicente formavam um casal comum, daqueles que pela manhã saem para correr e depois se preparam para sair para o trabalho.
Era normal esbarrar com eles no fim do expediente de trabalho às sextas-feiras num happy hour qualquer.
Eles pareciam satisfeitos com suas vidas, inclusive a sexual. Tudo ia bem, ou aparentemente estava bem, até que, numa noite, quando estavam transando, Yasmin se distraiu com algo que estava passando na televisão e Vicente se chateou.

No dia seguinte, ela confessou que estava achando a vida sexual de ambos monótona e deu sugestões para apimentar a relação. Viagens, sexshop… mas tudo parecia entediante.
Um dia, após a corrida matinal de costume, resolveram parar numa banca de jornal e compraram uma revista.
Interessante que havia uma reportagem falando sobre swing e troca de casais. Ambos se empolgaram e decidiram experimentar. Só não sabiam por onde começar. Deveriam chamar uma amiga para uma transa a três, ou seria melhor chamar uma desconhecida?
Depois de diversas combinações, decidiram, uma vez que eram iniciantes, começar devagar.
Inicialmente, sairiam separados para paquerar. Queriam saber como se sentiriam sendo desejados por outras pessoas.
Essa primeira experiência foi super empolgante! Naquela noite, quando disseram um para o outro como se sentiram desejados, transaram como no início do namoro.
Resolveram, por conta da primeira experiência satisfatória, avançar as etapas. Dessa vez poderiam sair, beijar na boca e trocar carícias.
Mais uma vez a experiência foi gratificante e eles ficaram empolgados!
A cada experiência mais empolgante, eles avançavam uma etapa. Até que decidiram que estariam prontos para transar com outras pessoas.
Concordaram que conheceriam essas pessoas e, já que nunca haviam feito isso antes, iriam para locais diferentes, e que só tentariam a transa a quatro se houvesse química e desenvoltura.
No dia do encontro, Yasmin se mostrou insegura e desconfortável, mas, como Vicente estava empolgado, preferiu não falar nada.
Saíram os 2 casais, conversaram, riram, trocaram carícias e, quando decidiram se separar e irem para o motel, Yasmin sugeriu para Vicente que não fosse naquele dia. Deu uma desculpa que havia comido algo que não tinha “caído bem”, mas Vicente insistiu.
No caminho, Yasmin decidiu não ir e, no dia seguinte, resolveu conversar com Vicente e o disse que não gostaria de participar mais disso e que percebeu que não era para ela.
O tempo foi passando e um dia, quando Yasmin ligou para Vicente, ele demorou para atendê-la. Quando atendeu, disse que estava com Eliane numa emergência, pois ela estava com crise de enxaqueca.
Yasmin se descontrolou, disse que tudo bem sair para transar, mas levar a pessoa ao médico era um absurdo! Xingou Vicente, disse que era melhor repensarem a relação, e o questionou dizendo que, provavelmente, ele não a amava como ela o amava.
Dessa vez eu estava com os dois na minha frente, e estávamos tentando desvendar o amor livre. Será que usei o termo correto? Será que estávamos desvendando o amor livre ou a liberdade em ser?

Amor, sentimentos, comportamentos… nem sempre andam de mãos dadas. Entretanto, podem e devem se comunicar entre si.
Será que Yasmin queria realmente viver o amor dessa forma?
Será que Yasmin estava disposta, não só a compartilhar, mas também a dividir, e quando falo em compartilhamento ou divisão não estou falando só sobre sexo, mas também sobre afeto e atenção.
E quanto a Vicente, será que ele se sentia um bicho enjaulado, que subitamente foi colocado em cativeiro e que agora que pode voltar e experimentar a liberdade em ser, e não se via voltando novamente para o cativeiro? Muitas perguntas sem respostas. Dessa vez eu vou precisar de um aliado chamado “tempo”. Só ele irá nos ajudar a responder essas questões. Por hora, sugeri para Yasmin e Vicente que continuassem a correr, não pelas ruas da vida, mas também em direção ao autoconhecimento
Ana Dias

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