Nunca é tarde para gozar
Nunca é tarde para gozar: Mulheres maduras querem relações amorosas e sexuais com mais intimidade.
Há mais de três décadas venho escrevendo sobre um fato que acabou de ser comprovado por um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Glasgow e da Universidade College Londres, publicado no Journal of Sex Research.
A pesquisa com mais de 2.000 mulheres revelou que são raras aquelas que acreditam que a menopausa provocou a redução na frequência ou na qualidade do sexo. Elas afirmaram que os principais motivos que roubaram a energia para o sexo foram estresse, preocupação, exaustão, cuidar dos pais e filhos, tensões familiares, dificuldades financeiras e problemas no trabalho.
O estudo concluiu que o desejo feminino é muito complexo, não apenas uma questão hormonal ou uma consequência natural do envelhecimento. A idade e a menopausa foram menos significativas na determinação dos níveis de satisfação sexual e de frequência do que fatores como relacionamento, saúde e estilo de vida. Por fim, como repito há décadas, o estudo apontou que a intimidade pode ser um dos fatores mais importantes para a satisfação sexual das mulheres.
De acordo com a autora da pesquisa, poucos estudos levam em consideração as opiniões das mulheres ao tentar compreender a gama de fatores que influenciam a experiência sexual na maturidade. O declínio na frequência e a falta de tesão nem sempre significam que o problema é hormonal. Ela destacou o impacto dos “deveres duplos de cuidado” que as mulheres maduras enfrentam, já que, muitas vezes, são as únicas responsáveis por cuidar dos filhos adolescentes e também dos pais idosos.
Segundo a pesquisadora, as mulheres maduras são frequentemente apelidadas de “geração sanduíche”. Elas se casaram e tiveram filhos mais tarde do que as gerações anteriores, estão trabalhando e podem estar sustentando materialmente e emocionalmente filhos dependentes e pais idosos, além de lidar com os próprios problemas de saúde decorrentes do envelhecimento. Elas têm o desafio estressante de buscar conciliar família, casa, trabalho, vida social e relacionamento amoroso e sexual.
A pesquisa não negou que a menopausa pode afetar a vida sexual das mulheres. No entanto, ela chamou a atenção para a necessidade de escutar as próprias mulheres e não apenas receitar tratamentos hormonais, já que, muitas vezes, a perda de libido não é apenas uma questão de hormônios.
Já escrevi muitos artigos para a Folha mostrando como a falta de intimidade afeta a vida amorosa e sexual dos casais que entrevistei para a minha pesquisa sobre amor, sexo e traição.
No meu novo livro, “A Arte de Gozar: amor, sexo e tesão na maturidade”, revelo que muitas mulheres mais jovens não sentem mais tesão, nem no sexo, nem na vida, como uma médica de 35 anos:
Meu marido não compreende que estou exausta e estressada e ainda quer que eu seja uma gueixa na cama. Transar dá muito trabalho. Ando tão cansada de tudo que só quero dormir o dia inteiro, não tenho vontade de fazer mais nada
No entanto, mostro que algumas mulheres disseram que só desabrocharam e floresceram mais tarde, como uma professora aposentada de 81 anos.
A vida inteira cuidei de marido, filhos, netos, agora é a hora de cuidar de mim. Sou viúva e estava há um tempão sem transar. Me inscrevi em um aplicativo de relacionamentos para pessoas de mais idade e conheci seis homens. Não me entusiasmei por nenhum, até que encontrei um engenheiro aposentado de 70 anos que combinou bastante comigo. Ele é inteligente, adora conversar, tenho mais intimidade com ele do que jamais tive com o meu marido. Eu só desabrochei, floresci, depois de velha. Sou uma flor do outono
Ela contou que a série “Grace e Frankie”, sobre duas amigas de mais de 80 anos, lhe “fez perder a vergonha de ser velha”.
No meu aniversário de 80 anos, pedi de presente para a minha neta, que é médica geriatra, um sugador, um brinquedinho que eu nunca havia experimentado. Também pedi que ela me inscrevesse em um aplicativo de relacionamento para pessoas mais velhas. Estou namorando há seis meses e transando como nunca transei antes, tirando o atraso. Graças a Jane Fonda e Lily Tomlin descobri uma coisa maravilhosa: nunca é tarde para gozar.
Mirian Goldenberg
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